Já começa a ficar difícil quando a gente lança a expressão “churrasco grego” na presença de brasileiros de diferentes Estados. Cada um, do sul ao norte, tem a sua definição.
É como ficar sabendo do que falam quando dizem ‘churrasqueira’, se é elétrica, se é portátil, enfim… Para uns, é aquele espeto que intercala carne com legumes. Para outros é um espeto enorme com uma variedade de carnes que fica girando lentamente longe do fogo.
A verdade por trás do churrasco grego é mesmo uma lição de história. Cansada de me questionar sobre a origem desta delícia, eu resolvi ir direto às fontes oficiais e aos livros.
Não foi fácil, contudo me deixem tentar explicar por onde foi que começou o tradicional prato, tão popular agora no Brasil. Definir o churrasco grego é mesmo difícil. Por isso, vamos separar os diversos tipos mais famosos e ver como podemos preparar o nosso, próprio, em casa.
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De onde vem o churrasco grego?
Quem pensa que é na Grécia está enganado. Esse tipo de churrasco surgiu no império Turco-Otomano, em 1.300 a. C. Isso mesmo, essa forma de assar carne é milenar.
A região que deu origem ao prato hoje é parte da Turquia. Ah, agora faz sentido, já que em alguns Estados e em algumas cidades a gente chama de churrasco turco.
O primeiro tipo desse churrasco inventado foi o que conhecemos por Kebab. Aquele espeto giratório na vertical, que fica cozinhando lentamente meio que longe do fogo. Quando se vai servir, junta-se ainda a salada no prato ou no pão árabe, a Pita.
Mas e como foi parar na Grécia?
A expressão não surgiu do nada. Eu descobri que durante a guerra Greco-Turca esse pessoal não trocou apenas bombas. No final do século XIX e início do século XX, muitos gregos e turcos refugiaram-se. Isso acabou por criar uma transferência populacional.
Os armênios também fizeram parte da confusão, buscando ajuda em Atenas nos anos 1920. Isso porque os gregos ortodoxos e muçulmanos foram expulsos da Grécia. Então o governo Otomano em Istambul abriu as portas para eles.
O vai e vem populacional influenciou as culturas em inúmeros sentidos. Tanto na vida, quanto na religião, na política, na gastronomia, tudo foi se modificando. Assim o churrasco ganhou inúmeras versões.
Primeiros gregos no Brasil
Há registros de gregos no Brasil já em 1841. Alguns vieram refugiados da tal guerra Greco-Turca. Outros vieram por causa das condições econômicas na Europa, no início do século passado. O Brasil, na época, era um país em desenvolvimento, cuja a economia estava andando com todo o vapor.
Vir para cá era atrativo, especialmente se fosse para investir e um novo negócio. O nosso país é uma mistura enorme de pessoas, culturas e tradições. Que lugar melhor que esse para inventar e reinventar uma tradição como essa?
As principais cidades em que os gregos foram parar eram: São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Florianópolis, Goiânia, Cuiabá e Curitiba. Durante a II Guerra Mundial registrou-se outra onda de imigração dos gregos e turcos para cá.
Mais de 10 mil estrangeiros vindo desses países chegaram às margens brasileiras para ficar. Com eles vieram temperos, alimentos e tradições que não existiam nas Américas.
Döner Kebab
O tal Döner Kebab é conhecido como um tipo de churrasco grego. Acontece que ele é turco. Tanto é que o nome quer literalmente dizer em turco “espeto giratório”. O prato é típico na Turquia e pode ser encontrado em muitos lugares no mundo. É popular por seu valor nutricional e preço muito em conta.
O Kebab pode ser feito com cordeiro, carneiro, carne de boi, frango ou ovelha. Hoje em dia é um tipo de fast-food, principalmente porque sua apresentação quase sempre é no pão. Ou em caixinhas para viagem, que você vê o pessoal em São Paulo comendo no metrô.
O legal da história do Kebab é que ele percorreu o mundo e foi ganhando versões diferente. Uma curiosidade é que na Alemanha, nos anos 1970, quando o sanduíche ficou famoso por lá, o sabor não agradava muito os alemães. Então eles mudaram alguns ingredientes para ficar mais parecido com a sua gastronomia.
Quais carnes vão?
Independente da origem, o importante é que nunca é feito com porco. Primeiro porque, na essência da sua origem, vem de praticantes do islamismo. E depois porque fica excelente com carne de cordeiro. No Brasil, nas barracas de rua encontramos pouca variedade, ou é carne de boi ou é de galinha.
Mas em casa, você pode fazer com vitela, cordeiro ou o que quiser. Como a carne tem que assar lentamente, você pode optar por um pedaço mais barato do boi. Isso porque no processo de cozimento a carne vai aos poucos amaciando.
Preparando o espeto
Agora vamos ao que muitos não fazem ideia. Sabe aquele espetão de carne do Kebab que fica lá girando? Aquilo não é um pedaço inteiro de carne.
Funciona assim: em um espeto vai-se empilhando bifes de diferentes carnes, finos e bem apertadinhos um contra o outro. A ideia é formar um cilindro.
Na hora de assar, aquilo assa de fora para dentro fazendo com a carne solte muito líquido. Conforme eles vão raspando as beiradas, as tiras de carne caem de volta no líquido.
Eu gosto de misturar carne de boi e frango. Pode ser bifes de patinho e peito de galinha. Na minha receita, as carnes vão para a geladeira em um marinado um dia antes.
Assim absorvem bem o sal, o alho e os temperos. Essa forma de grelhar a carne não leva sal grosso, por isso deve ser marinado com antecedência.
E agora?
Lembrando que a parte mais gorda da carne tem que ficar para o final, no topo, para escorrer pelas laterais, hidratando o cilindro de carne. Uma vez montado o espeto é que vem a parte difícil: fazer assar na vertical. Se você tem a máquina de espeto giratório, está tudo tranquilo, basta saber usá-la. Caso contrário, se liga nessa dica!
Você pode amarrar o espeto com barbantes de culinária, de forma que a carne fique toda juntinha como um único bloco. Depois, em uma chapa bem quente e com um dedo de óleo, vai aos poucos selar o espeto em todos os lados. Não deixe queimar, apenas doure a carne.
Quando ver que todos os lados estão dourados, pode raspar essa camada e repetir o processo. É trabalhoso, mas o resultado final é inesquecível. O sabor fica incrível. Dica: cada vez que terminar uma selagem, retire o caldo que ficou na chapa e junte aos restos da carne cortada.
Como fazer churrasco grego caseiro
Tem churrasqueira? Você pode então fazer o espeto, intercalando carnes e fatias de cebola. Quando o espeto ficar pronto, coloque-o em cima de um pedaço grande de papel alumínio. Antes de enrolar o espeto inteiro no alumínio, derrame o marinado por cima.
Depois de embrulhado, leve o churrasco grego para o fogo. Como a churrasqueira tradicional é horizontal, você não poderá abandonar o churrasco grego. Terá de ficar ali virando o tempo todo para não queimar o alumínio. A vantagem principal é que assa muito rápido.
Método no forno
Quem, como eu, mora em apartamento pequeno mas curte inovar pode fazer um mini, ou versão mais pequena. A minha receita é bem simples e fácil. A carne é cortada em cubinhos finos.
Você pode comprar no supermercado aqueles palitos de churrasquinho. Eu gosto de preparar dois espetinhos por pessoa.
Fica bacana intercalar os pedacinhos de carne e frango com pimentão, tomate, abobrinha e cebola. Assim fica bem colorido.
Depois que os espetos estão prontos e temperados, basta coloca-los em uma refratária de vidro com óleo ou azeite.
Cubra a refratária com papel alumínio e coloque no forno já pré-aquecido. Deixe por meia hora a mais de 200 graus.
Se quiser ver o cozimento da carne, levante apenas uma ponta do alumínio com cuidado. Se cobrir e descobrir muitas vezes, seu churrasco grego ficará seco. Depois de pronto, basta servir com um arroz colorido e saladinha.
Recheios além da carne
O típico vem no pão. No entanto não é só pão e carne. Vai salada junto e alguns tipos de molho. O mais recorrente é o molho de alho agridoce.
Existem versões com iogurte, que também ficam deliciosas. Acho que depende de como você quer levar a sua dieta.
No pão vai também: cenoura ralada, cebola crua em tiras, fatias de tomate e pepino, repolho picado cru, picles e pimenta.
No sul do Brasil, alguns lugares inserem também a batata palha e o ovo picado. Entretanto é claro que você pode inovar e colocar o que quiser no seu sanduíche.
No prato é comum ver versões com batata frita. Quando feito em casa, eu gosto de preparar um arroz à grega.
É aquele arroz típico do Natal, com uvas passas e legumes picados. Acho que combina bastante, não só no nome!
Como eu gosto?
Na minha receita caseira, eu sirvo um molho feito de iogurte natural. É bem prático de fazer e você pode aproveitar em outras receitas.
Eu misturo dois potes de iogurte grego natural não adoçado à uma colher de azeite de oliva, sal à gosto, uma hortelã fresca picada, pimenta preta, um dente de alho esmagado cru, cominho e um pouco de parmesão ralado.
O típico churrasco grego que atualmente se faz na Grécia leva um molho muito parecido. Os gregos chamam esse molho de iogurte de tzatziki.
Em São Paulo, o churrasco grego vem acompanhado do tradicional vinagrete. Em Curitiba, a rede mais famosa de churrasco grego aderiu ao molho bechamel.
No Rio de Janeiro, a febre do churrasco grego é tanta que existem diferentes tipos e invenções. Há até uma lista no Trip Advisor de onde comer a iguaria e quais os melhores restaurantes. Vale a pena conferir caso você passe por lá ou more na cidade maravilhosa.
Molho de Tahine
Outro elemento que pode ser inserido no churrasco grego é o Tahine. Depois das algas, o Tahine é a maior fonte de cálcio que existe.
Ele consiste em uma pasta feita com semente de gergelim. Pode ser utilizado em muitas receitas, tanto doces, como salgadas.
O Tahine surgiu no Oriente Médio e é até hoje muito aproveitado. A vantagem desse molho é que é extremamente saudável.
Ele é rico em fibras, proteínas, cobre e manganês. Tem baixa quantidade de gordura e quase zero açúcar. A versão mais saudável do churrasco grego é a que leva o Tahine no lugar dos outros molhos.
Fazendo Tahine em casa
Fazer o seu próprio Tahine é bem simples. É só torrar 300 gramas de sementes de gergelim no forno por cerca de 15 a 20 min. Assim que dourar, retire e reserve até esfriar.
Você pode moer as sementes com um processador, liquidificador ou mixer. Eu prefiro fazer com o mixer, porque é preciso moer até virar uma pasta. Assim eu acho mais fácil de limpar o aparelho e também acho que desperdiçamos menos Tahine.
Feito isso é só guardar em um pote em local arejado e fresco. Pode deixar na geladeira, porém ele endurece. O caseiro tem que ser consumido em uma semana, se não estraga, pois não vai nenhum conservante.
O bom é que você pode fazer a quantidade que precisa naquele momento. Se fizer churrasco grego para duas pessoas, por exemplo, vai precisar de 200 gramas de Tahine no máximo.
Perigos do “grego” de rua
Já se fala, e muito, dos perigos de comer churrasco grego de rua. Sabe aquele carrinho de churrasco grego que você sempre encontra? A questão é que, como o cozimento é lento, a chance de contaminação da carne é maior. Isso acontece porque as bactérias se proliferam até mesmo em temperaturas mais altas.
Então procure comer em locais que você já conhece ou pelo menos fica evidente a procedência dos alimentos. Busque também observar os hábitos de limpeza e higiene dos locais que frequenta. Se estiver grávida, evite comer qualquer alimento que pareça malcozido ou cru. Mas não entre em paranoia, ou você nunca mais vai comer churrasco nenhum na vida.
Crédito das imagens: Pexels e Unsplash
Fontes: Wikipedia