Na verdade, esse texto não deveria se chamar origem do churrasco gaúcho, mas sim origem do churrasco. Isso se deve ao fato de que o churrasco gaúcho é que deu início a tradição que conhecemos hoje pelo Brasil.
Mas a carne assada na brasa (como se fosse uma churrasqueira) é muito mais antiga do que isso. O ser humano, na pré-história, já caçava animais e assava suas partes na fogueira.
Na idade do fogo, mais conhecida como Paleolítico, os homens criavam lanças com pedras lascadas (que serviam como facas e até como alguns acessórios) primeiro para encurralar e depois para matar animais de pequeno e médio porte.
No Brasil, por meio da arqueologia e do estudo da história oral, hoje sabemos que os índios Tupis defumavam carne de gado e de porco em grelhas de madeira. Entretanto, uma rápida pesquisa no Google te mostra que eles não faziam isso pelo sabor, mas sim para conservarem por mais tempo o alimento.
O churrasco gaúcho vem dos pampas, uma região vasta de pastagem natural que é típica aqui da América do Sul. Na Argentina e no Uruguai também se encontra essa paisagem. Os primeiros gaúchos, como conta meu avô, eram, nada mais, nada menos, que os vaqueiros.
Churrasco Gaúcho e Espanhóis X Portugueses
É como a gente estuda na escola, lá em 1750, quando Portugal e Espanha estão brigando por esse pedação de terra que é o Brasil. Por causa da disputa, vários espanhóis vieram para o sul colonizar terras, garantindo aquilo que eles pensavam que era deles.
E se você leu até aqui, e sobre este blog, você sabe que a minha mãe é descendente de espanhóis. Meus avós por parte de mãe, seu Lorenzo e dona Olívia, nasceram por aqui mesmo.
Porém os meus bisavôs vieram do norte da Espanha, uma região chamada Galícia. Eu não conheci nem a bisa, nem o biso.
Meus avós estão vivos ainda e sempre me contam histórias sobre eles. Quando eles chegaram no Brasil, no início dos anos 1900, tudo era mato. Eles viviam da pecuária, criando galinhas, ovelhas, porcos e vacas.
Churrasco gaúcho no chão
No início, não tinha churrasqueira. Os gaúchos andavam pelas pradarias, eles eram nômades. Por isso, o churrasco se tornou uma tradição.
Era fácil caçar e abater um boi, carneá-lo e colocar em tiras sobre a fogueira. A carne fornecia proteína e gorduras, ideais para eles sobreviverem ao estilo de vida. Sem dúvida que não era nada fácil.
Principalmente quando o churrasco era feito no chão. Antigamente eles precisavam improvisar, então eles criavam uma estrutura em forma de triângulo em cima do fogo. Por isso que hoje em dia a gente ouve várias expressões como “fogo de chão”.
E depois disso, conforme os animais foram sendo domesticados, as pessoas começaram a se assentar em fazendas. O que acabou por culminar no aprimoramento do churrasco.
Agora eles já não são mais nômades, então não precisam assar o boi inteiro de qualquer jeito. Não há mais a necessidade de fazer uma fogueira no chão.
E o charque?
Muita gente pensa que o charque é gaúcho. Não é bem assim. O charque, ou carne seca, é um produto que surgiu no nordeste brasileiro. Como o clima por lá era muito quente e agreste, a carne logo estragava. Para evitar isso, eles salgavam e secavam os pedaços de carne ao sol.
E isso foi na época da Guerra dos Bárbaros, lá pelo século XVII. Só se começou a comer charque no Rio Grande do Sul depois do Tratado de Santo Idelfonso, por volta de 1780. A primeira charqueada que se tem notícia foi montada em Pelotas, por um cearense.
Foi o 20 de setembro…
O povo gaúcho comemora no dia 20 de setembro a chamada Revolução Farroupilha, conhecida também como Guerra dos Farrapos. Esse conflito durou dez anos, entre 1835 e 1845.
E ocorreu justamente porque os estancieiros gaúchos se revoltaram contra a Coroa brasileira em relação aos impostos cobrados em cima do charque. A motivação dessa guerra civil, tão celebrada pelo povo do Rio Grande do Sul na atualidade, mostra o quanto a carne era e continua sendo importante.
Não é à toa que isso deu origem inclusive ao hino e à bandeira rio-grandense. Por isso que todo dia 20 de setembro Porto Alegre cheira a churrasco. As meninas se vestem de prendas, os meninos de gaúchos. Os cavalos marcham nas ruas e é montado o maior acampamento farroupilha do Estado.
Nesse local, milhares de pessoas se juntam por dia para comer churrasco e beber chimarrão. Também é possível ver espetáculos típicos e comprar produtos regionais.
Origem do nome churrasco e do choripán
Churrasco quer mesmo dizer carne assada sobre brasa. A principio, e de acordo com os dicionários da língua portuguesa, é o barulho onomatopeico que a carne faz ao ser virada sob o fogo.
Na Argentina e no Uruguai há ainda o asado rio-platense. Que hoje em dia nada mais é do que aquele belo entrecot grelhado.
No entanto, o asado era a comida de pobre dos primeiros gaúchos. É que antes consistia nas sobras de carne dentro de um pão, como um choripán. Aos poucos as tradições vão mudando e, com elas, a gastronomia local também.
Costelão 12h
Todo rodízio de churrasco gaúcho que se preze serve o tal do costelão 12h. É uma costela bovina que assa durante meio dia na brasa, lentamente. Os gaúchos do pampa, aqueles nômades, eles usavam a costela do boi para proteger a fogueira do vento.
Como a costela tem muita carne e gordura, ela demora mais a cozinhar. Foi assim que surgiu esse prato tradicional e famoso. No sul, o inverno é bastante rigoroso, com frio e chuva.
Por isso, era importante que os homens que trabalhavam no campo consumissem uma dieta bastante calórica. Daí também que vem o costume tão forte na região da dieta carnívora.
Como fazer costela assada na churrasqueira de casa?
Ao contrário do que muitos pensam, você pode (e deve) fazer a costela assada diretamente na churrasqueira. Nem sequer é preciso utilizar papel alumínio ou celofane culinário, que acabaria cozinhando um pouco a carne e alterando o sabor.
Como eu disse acima, a costela tem bastante gordura, enquanto assa lentamente em fogo médio, esse sabor vai passando para a carne. Isso evita que ela fique ressecada, deixando-a com gosto único, se for bem temperada.
Como temperar a costela
É importante ressaltar que a costela deve ser temperada apenas com sal grosso grande. Na falta dele, pode ser o sal grosso médio tradicional, em uma quantidade um pouco maior.
Uma dica bacana antes de temperar a costela é fazer vários cortes na gordura, na parte de cima e na parte de baixo. Isso ajuda a penetrar o sal e quando pronta a parte da gordura fica com aquele aspecto crocante delicioso.
Onde comer churrasco gaúcho?
Seria um tanto óbvio responder no Rio Grande do Sul. É claro que em solo gaúcho, o churrasco é melhor. Mas se você não está por perto ou nem sequer mora por aqui, existem outros lugares que servem a iguaria.
Tanto no Rio de Janeiro, como em São Paulo, há uma série de estabelecimentos onde você pode apreciar um excelente rodízio. Vamos a lista!
Rio de Janeiro
- Rio Brasa
- Churrascaria Mocellin
- Fogo de Chão
- Churrascaria Palace
- Churrascaria Majórica
São Paulo
- Churrascaria Vento Haragano
- Fogão Gaúcho
- Fogo de Chão
- Churrasco Gaúcho
- Na Brasa
Em outros lugares do Brasil
- Fogo de Chão – onde: Brasília (DF), Salvador (BA), Belo Horizonte (MG), Porto Rico, Estados Unidos e México
- Sal e Brasa – onde: Fortaleza (CE), Natal (RN), Salvador (BA), João Pessoa (PB), Recife (PE), São Luís (MA) e Aracaju (SE)
- Rincão Grill – onde: Salvador (BA)
- Churrascaria Búfalo – onde: Manaus (AM)
- Restaurante Asa Gaúcha – onde: Brasília (DF)
- Los Pampas – onde: Anápolis (GO)
- Adega do Sul – Belo Horizonte (MG)
- Carretão Trevo – onde: Contagem (MG)
Qual a grande diferença do churrasco gaúcho?
Bom, tudo! O churrasco gaúcho é único. Se você frequentar, pelo menos uma vez na vida, um Centro de Tradições Gaúchas (CTG), você com certeza saberá disso. Churrasco no Rio Grande do Sul é levado muito à sério.
“Já começa pela carne”, diria meu avô Adam. E é verdade. No churrasco gaúcho a gente come picanha, maminha, cupim, coração de galinha, galeto, lombinho de porco, costelão e alcatra.
O jeito que preparamos a carne também é diferente. O nosso segredo é: em carne bovina não se coloca nada além de sal grosso.
O lombinho tradicional do sul é enrolado em queijo e bacon. Um bom churrasco gaúcho não acontece sem polenta frita, aipim frito, aquele pão com alho e a “gurizada” para curtir e comer.
Antes da carne ir para o fogo tem que ter um debate sobre futebol e qual o melhor tipo de salsichão. Também não pode faltar cerveja! E nem maionese!
Aliás, churrasco gaúcho é aquela coisa tão tradicional, que Dia das Mães é dia de levar a mãe na churrascaria. Ela, que sempre está lá limpando a carne, descascando a batata e temperando o pão.
Acompanhamentos mais comuns do churrasco gaúcho
Salada de maionese – feita com batata, ovos cozidos, cenoura, salsa, cebolinho e ervilha.
Salada de tomate – tomate gaúcho às fatias com rodelas de cebola crua temperados com sal, azeite e vinagre.
Pão com alho – pão tipo cacetinho com manteiga de alho, salsa e cebolinho.
Farofa – farofa de mandioca refogada com bacon.
Outros – abacaxi assado com canela, banana frita, polenta, aipim, queijo quente com goiabada, salada de folhas verdes, salsichão e linguiça, arroz e feijão.
Onde comer churrasco gaúcho em Gramado
Quem vem visitar o sul tem que dar um pulinho na serra. A serra gaúcha é famosa pelo mundo por sua beleza e diversidade. Além dos parques naturais, tem algumas cidades turísticas que valem muito a pena conhecer. Entre elas, Gramado e Canela se destacam.
Gramado lembra uma cidade colonial no interior da Alemanha. Isso porque foi colonizada por alemães e italianos. Por isso, ir a Gramado é sinônimo de comer até morrer.
Por lá, é muito normal acordar cedo e comer um café colonial, que consiste em: uma variedade enorme de pães, bolos, patês, salgadinhos, queijos, frios, embutidos, tortas, doces e café. E depois que fazemos a digestão disso, lá pelas duas horas da tarde é hora de ir a uma churrascaria.
As churrascarias de Gramado têm outra coisa especial: sopa de capeletti. No inverno, a entrada do churrasco é essa sopa, com massa, frango, batata e cenoura. Geralmente rola uma garrafa de vinho junto. Herança dos italianos!
Churrascarias que eu recomendo
Vamos então àquela lista que vocês estão loucos para saber.
Chama de Fogo
A primeira é a Churrascaria Chama de Fogo. É um pecado ir à Gramado e não passar por lá. Eles são especialistas em churrasco gaúcho.
Além disso eles trabalham com carnes como Picanha Red Angus, Bombom da Alcatra, Ojo de Bife, Costela Premium Black Angus, Filé Mignon e a tradicional Costela Gaúcha assada em fogo brando. As sobremesas nem vou descrever, são boas de morrer.
O valor do rodízio por pessoa fica por R$ 99,00. Fica na Rua Borges de Medeiros, número 1350. Reservas devem ser feitas pelo telefone (54) 3286-256 ou e-mail churrascaria@churrascariachamadefogo.com.br.
Zelão
A churrascaria Zelão se destaca pela Picanha Baby Beef, Filé Mignon, Fraldinha, Entrecot, Paleta de Cordeiro e Vitelo. Sem falar que eles oferecem saladas mais nutritivas. Se você está num dia mais light, é a melhor opção.
Os doces é que não são assim nada saudáveis. Inclusive tem uma sobremesa que se chama Grand Finale. O rodízio custa R$ 94,90 por pessoa. Fica localizada na avenida das Hortênsias, número 4919. Para reservas ligue (54) 3286-2715.
Costelão Gramado
É aquela churrascaria mais familiar. Onde você encontra Cupim, Contrafilé, Ponta de Alcatra, Picanha, Fraldinha e Filé Mignon. As crianças sempre gostam daqui!
Um diferencial é que eles também servem comida campeira e arroz de carreteiro. Sem falar que é um pouco mais barata, o rodício fica por R$ 75,00 por pessoa.
Também fica na avenida das Hortênsias, número 4759. O contato pode ser feito através de (54) 3286-6582 e de (54) 98402-3293.
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Fontes: Gazeta do Povo, Cozinha Tradicional